Crónica de Alexandre Honrado
Um texto em paz
A guerra – um dos tipos de assassinato cometido em nome de Estados – continua a ser prática corrente e recorrente numa civilização enferma, onde o cometimento dos excessos contra a dignidade humana parecem ter mais êxito do que a diplomacia, a proximidade, a solidariedade, a mescla, únicas ações concretas que podem conduzir à sobrevivência do que há de efetivamente humano na Humanidade.
A cultura da morte mantém-se com intensidade, vão oferecer-se às crianças muitas armas neste Natal, muitos jogos onde matar é pontuado e aplaudido, e muitos dos seus pais comprarão para si mesmos o que de mais letal conseguirem, não por se sentirem inseguros, apenas porque são inseguros e incapazes de se tornarem seres melhores para um mundo que lhes deu tudo de melhor e que agora morre às suas mãos.
A guerra, entra pelos canais e pelos olhos, e nada já estremece o consumidor comum, que vê pedaços de corpos espalhados pelas ruas e crianças moribundas e continua calmamente a comer a sua refeição promotora de colesterol com glúten quanto baste e excesso de hidratos lesivos que se instalam no coração que já não é o órgão simbólico do amor e da emoção, mas um músculo atrofiado na gordura dos menus quotidianos.
A guerra. Tem muitos rostos, é certo. O daquele velhote (velhice não é estatuto) que sai da reforma e finge, com a sua prosa amargurada, que já nos esquecemos dos seus tempos, que nos encheram de vergonha e despesismo.
A guerra. Dos ácaros que saem debaixo do tapete com medo da limpeza. Das mentiras que chegam à rua e são recebidas como trajetos de verdade.
A guerra dos assassinos do carácter alheio.
A guerra dos que fingem ter soluções e brandem o ódio, espumam de raiva, vivem à conta daqueles que criticam e traem com um hipócrita e artificial sorriso de desdém afivelado na cara sem vergonha.
A guerra, que é possível pelo desmembramento em que vivemos, cada qual por si e sem o outro – pois era perigoso um povo unido, que sendo forte seria mais feliz.
Alexandre Honrado
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